O processo que Jung designou como o processo de individuação, pode ser entendido como o processo de tomada de consciência da totalidade humana. Por totalidade se entende uma atitude que vai além dos opostos exclusivistas e pelo esforço para a integração desses opostos. É a estrutura da totalidade que, desde o seu nascimento, é o aspecto fundamental do ser humano e que Jung se refere como o Self. Essa totalidade é primeiro situada na mãe. A mãe cuida do recém-nascido atendendo a todas as suas necessidades como a satisfação da fome, da proteção contra o frio, cuidando do sono e da segurança do bebê. Nessa fase a criança experimenta inquestionável segurança e proteção no amor maternal. Após um ano, a criança se “liberta” da mãe e da necessidade de segurança satisfeita nasce uma relação de confiança. A segurança resultante é a base para a terceira fase, que começa no final do segundo ano de vida, em que o centro do Self torna-se consolidado no inconsciente da criança e começa a manifestar-se em símbolos da totalidade. A criança brinca, desenha ou pinta símbolos de linguagem usados a milhares de anos, e com o qual o ser humano, consciente ou inconscientemente, por vezes, em todas as culturas, deu expressão ao seu mundo interno. Esta é uma experiência profunda que muitas vezes encontra sua expressão na forma de um círculo ou quadrado: assim, o círculo se torna não apenas uma forma geométrica, mas se transforma em um símbolo que permite que algo vivo invisível no ser humano venha à luz. Símbolos religiosos ou com conteúdo espirituais/transpessoais, portanto, falam de uma ordem espiritual interna que pode ser a base para um desenvolvimento saudável do ego, que cria o vínculo com o mundo externo. Jung falou sobre a unidade do mundo interno e externo. Frequentemente temos, de um lado uma adaptação ao mundo externo com a máscara da persona e usamos o inconsciente reprimido para nos adaptar ao nosso mundo interno. O inconsciente contém as energias transmitidas de experiências coletivas anteriores, bem como por nossas vivências e memórias esquecidas e reprimidas. O ser humano, entendido como uma unidade, deve ser capaz de continuar a mediação entre as demandas do mundo externo e interno, como a única maneira de provar que é um indivíduo autêntico, porque, deste modo, não é nem será vítima dos conteúdos inconscientes, nem uma criatura super adaptada em relação à sociedade e ao mundo. Esta atitude, no entanto, só pode ser realizada de modo a que o ego, que é o centro da personalidade consciente, torne-se consciente de sua relatividade e compreenda-se como fazendo parte do Self, que encarna a unidade do consciente e inconsciente pessoais.
Conforme Nise da Silveira (2006) todo ser tende a realizar o que existe nele, em germe, a crescer, a completar-se. Assim é para a semente do vegetal e para o embrião do animal. Assim é para o homem, embora o desenvolvimento de suas potencialidades seja impulsionado por forças instintivas inconscientes, isso adquire um caráter peculiar: o homem é capaz de tomar consciência desse desenvolvimento e de influenciá-lo. Precisamente no confronto do inconsciente com o consciente, no conflito como na colaboração entre ambos é que os diversos componentes da personalidade amadurecem e unem-se numa síntese, na realização de um indivíduo específico e inteiro. O processo de individuação não consiste num desenvolvimento linear. É um movimento de circunvolução que conduz a um novo centro psíquico. Jung denominou esse centro de Self (si mesmo). Quando consciente e inconsciente vêm ordenar-se em torno do Self, a personalidade completa-se. O Self será o centro da personalidade total, como o ego é o centro do campo do consciente.
O conceito junguiano de individuação tem sido muitas vezes deturpado. Entretanto é claro e simples na sua essência: tendência instintiva a realizar plenamente potencialidades inatas. Mas, de fato, a psique humana é tão complexa, são de tal modo intricados os componentes em jogo, tão variáveis as intervenções do ego consciente, tantas as vicissitudes que podem ocorrer, que o processo de totalização da personalidade não poderia jamais ser um caminho reto e curto. Ao contrário, na maioria das vezes se mostra um percurso longo e muitas vezes difícil.