“AS AVENTURAS DE PI” E O PROCESSO DE INDIVIDUAÇÃO

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O filme ‘As Aventuras de Pi’ é uma obra de arte belíssima e repleta de símbolos que remetem ao nosso amadurecimento psicológico e busca espiritual; desde os questionamentos sobre as crenças religiosas até a passagem pelos inúmeros desafios que enfrentamos em nossa jornada rumo à individuação.
Na estória Pi é um rapaz que se torna náufrago no oceano Pacífico junto com um tigre e juntos acabam travando grandes lutas. O tempo todo os reflexos do céu no mar me lembravam da lei hermética: “O que está em cima é como o que está embaixo. E o que está embaixo é como o que está em cima”. As imagens são tocantes e penetrantes.
Podemos interpretar a presença do tigre como uma associação à natureza primitiva e instintiva do homem. O oceano nos remete ao nosso inconsciente, com forças incontroláveis e sombrias que irão testar nossa capacidade de superação, que tanto poderão nos matar ou nos fortalecer. O mar também nos lembra da nossa conexão com os nossos ritmos e da nossa natureza essencialmente emocional.
Ao longo do filme, Pi vai enfrentando o medo do tigre e superando o trauma causado pelo seu pai, que o obriga de maneira dramática a entender quão perigoso o animal é. Talvez isto possa representar os limites que nos são impostos pelas figuras de autoridade em nossa sociedade, que nos impõem medo desde cedo e tentam restringir o acesso ao nosso poder. Ao desenvolver uma amizade com o tigre é como se ele estivesse INTEGRANDO as suas forças instintivas e fosse resgatando o seu próprio poder.
Em um determinado ponto da jornada, eles vão parar numa ilha de natureza exuberante e riquíssima, e ali conseguem se alimentar e se salvar. Esta passagem pode ser associada à penetração na Grande Mãe, que muitas vezes é perigosa. Apesar dela ser nutridora e protetora, porém temos que saber compreendê-la e respeitá-la.
Ao longo da viagem pelo mar, Pi começa a se ENTREGAR e confiar em uma força maior e vai percebendo que o tempo todo estava sendo guiado, amparado e protegido. Assim também é em nosso processo de individuação – o nosso ego vai se flexibilizando, amadurecendo e aprendendo a render-se a algo maior – que podemos chamar de self, de sagrado, Deus ou como preferir. Queiramos ou não, o caminho de individuação é difícil, estreito e exigirá toda a nossa entrega. Ao final do filme, Pi resolve revelar uma versão mais realista para a estória toda, e convida cada um a escolher em qual delas cada um quer acreditar. Bom, a escolha cabe somente a cada um de nós!
Recomendo!

Texto de Kátia Bueno – www.katiabueno.com.br

Escrito por

Psicoterapeuta Junguiana pós-graduada pela FACIS e IJEP e Expertisse em Terapia Floral de Bach.

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